domingo, 8 de fevereiro de 2009


Voltei a sentir aquele sabor a mar…entrei pela portada entreaberta e vi uma vida, construída sem mim.
O cigarro estava lá, aceso, talvez por companhia, a cafeteira fumegava e a chama avivava-se na lareira improvisada, eu já não tinha frio, muito antes de ter entrado já não tinha frio.
A mesa anunciava duas pessoas, talvez tivesse perdido tempo demais, talvez seja melhor sair…
Avancei, fazendo o soalho estalar e percebi as memorias que me enchiam os pensamentos, bocados de tempo que me relembravam algo…as mesmas fotos, as mesmas molduras, a porta da sala continuava por arranjar. Éramos os mesmos. O Joca!tão pequeno quando saí mantinha o mesmo ar de cachorro endiabrado, abanou somente a cauda quando me viu, como se eu nunca os tivesse abandonado. Ele lembra-me! Na mesma televisão que presenciara longas noites de filmes a dois, acabados em um só saco-cama, ao lado da lareira, alguém anunciava o tempo. Tempo, pensei, que tempo?
Eu devia sair, eu fingi ter o tempo.
Então ouvi uma voz que me empurrou pelo corredor como se nunca tivesse fugido. Conhecia aquela casa há muito tempo, o tempo… E ele estava lá, ao telefone, era ele, foi sempre ele, e pressentiu-o, eu sei, e virou-se olhando-me com os olhos cor de mel que um dia eu quis conquistar…percebi, ele não vivia sozinho, a mesa esperava por mim, o quente da casa também, eu apenas saí por uma longa viajem que teve um fim, voltei ao meu mundo, voltei ao homem que viveu á minha espera, estou em casa.

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